A Receita Federal do Brasil (RFB) planeja abrir em breve um novo concurso público para analista-tributário e auditor-fiscal.
O edital deve sair assim que o Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MPOG) aprovar a solicitação feita pelo órgão em 2014.
Sendo assim, os interessados em participar do processo seletivo da Receita Federal
já devem começar a se preparar para este concurso que é um dos mais
disputados do país. Fatores como a estabilidade no emprego e os altos
salários oferecidos pelo órgão (nos valores de R$ 9.256 e R$ 15.743 para
as funções de analista e auditor, respectivamente) atraem muitos
candidatos. É neste momento que surgem diversas dúvidas, entre elas o
questionamento com relação ao peso que a área de formação universitária
terá na hora da seleção, já que a concorrência deve ser acirrada (o
último certame, realizado em 2012, teve 129 candidatos inscritos por
vaga).
Pensando nisso, Kaique Knothe, primeiro colocado para o posto de auditor-fiscal no último concurso da RFB, compartilha sua experiência pessoal e alguns fatos sobre o assunto com a gente. Confira abaixo.
1º colocado no concurso da Receita fala sobre o peso da formação acadêmica para a seleção
É
um prazer imenso poder conversar sobre concursos com vocês, um tema tão
importante e que causa muitas dúvidas, principalmente para quem está
começando seus estudos ou ainda está decidindo se vale a pena começar.
Meu nome é Kaique Knothe de Andrade, tenho 26 anos, sou engenheiro
mecânico e fui o primeiro colocado no último concurso de auditor-fiscal da Receita Federal do Brasil.
Nesse texto vamos conversar sobre um tema bastante importante: a formação universitária do candidato. O concurso da Receita
exige formação de nível superior em qualquer área, o que o diferencia
bastante dos certames da área jurídica e também de outros que exigem uma
formação específica, como ocorre com algumas agências reguladoras,
órgãos anuentes, áreas de TI... Esta característica o torna muito
atrativo para uma pessoa que, independentemente da formação, venha a se
interessar pelos benefícios da carreira pública e pela atividade de
fiscalização. Mesmo assim, muitas pessoas decidem não prestar a prova da
Receita argumentando que, ainda que estejam interessadas, acreditam que
sua formação é muito diferente do conteúdo exigido pelo edital. Em
outras palavras, que cansei de ouvir de candidatos, argumentam que “só
passam engenheiros, contadores e bacharéis em direito”.
Essa impressão, bastante equivocada, cai por terra quando conhecemos mais a fundo o concurso.
Para reforçar esse argumento, podemos analisar o perfil dos aprovados
na última seleção – obtido através de uma pesquisa extra-oficial
realizada em uma rede social pelos aprovados, que foi posteriormente
divulgada em fóruns e da qual eu reproduzo uma pequena parte aqui. Dos
278 candidatos aprovados para Auditor-Fiscal em 2014, 173 responderam a
várias perguntas, dentre as quais “Qual é o seu curso de formação?”.
Foram obtidas nada menos que 28 carreiras diferentes como resposta, sem
contar a opção “Outros” (e lembrando que há 105 pessoas fora das
estatísticas por não terem respondido). O curso que mais aprovou
realmente foi o de Engenharia, com 29 representantes, seguido de
Administração com 26, Contabilidade com 22 e Direito com 17. Porém ainda
restam quase metade das vagas, divididas entre estudantes das mais
diversas áreas, tais como biologia, farmácia, economia, filosofia,
ciências militares, fisioterapia, geografia, jornalismo, medicina
veterinária, nutrição, odontologia, relações internacionais, cursos de
tecnólogo, entre outras. São tantas que não dá nem pra listar todas
neste texto!
Uma
estatística parecida foi feita entre os aprovados do último concurso de
Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo (chamado comumente de
"ICMS-SP" ou "SEFAZ-SP", nomes que aludem ao principal imposto estadual
ou ao órgão ao qual esses servidores estarão lotados). Houve um grau de
participação menor, já que apenas 308 pessoas responderam e o edital
previa 885 vagas, divididas em Gestão Tributária e TI. Analisando os
dados de formação universitária, encontramos aprovados de 22 carreiras
diferentes, número que tende a ser maior se considerarmos a abstenção. O
grupo formado por engenharia, contabilidade, administração e direito
foi responsável por 57% das aprovações, algo muito semelhante aos dados
da RFB (54%). E novamente eu ressalto: quase metade das vagas do
concurso foi preenchida por carreiras que estudam uma parte muito
pequena do conteúdo durante o período universitário. Pessoas que usaram
sua habilidade, seu tempo e seu método em prol de um estudo voltado ao
edital, pensando especificamente no concurso.
Essa
vasta lista de formações dos aprovados, que é bastante interessante
para a Receita Federal e para as Secretarias da Fazenda por provê-las de
um quadro bastante diversificado de servidores, pode ser explicada
quando analisamos o edital do concurso: ele é bastante
volumoso e, mais do que isso, amplo. O candidato deve ter o conhecimento
de disciplinas de diversas áreas (sendo que algumas delas não constam
de nenhum currículo acadêmico) e, no caso da Receita Federal,
se o candidato for excepcional em uma delas mas não conhecer bem alguma
outra, correrá o risco de ser eliminado ao não obter o mínimo de 40% de
acertos em cada matéria.
Tudo
isso nos leva à seguinte conclusão: a formação do candidato pode
constituir uma vantagem inicial, mas tal vantagem não é decisiva quando
comparada ao desempenho do concursando nos estudos voltados ao edital. É
natural se pensar que um contador terá uma vantagem inicial em
Contabilidade, que um bacharel em Direito começará na frente nas
matérias jurídicas, que uma pessoa formada em exatas largará com certa
vantagem em raciocínio lógico, porém grande parte do conteúdo será
estudada “do zero” por todos eles. É a sua preparação específica para o
concurso, com um bom material, um bom método e muitas horas de dedicação
que será o diferencial para a sua aprovação.
Se
você for um candidato da área de exatas, inicie uma preparação
fortemente baseada nas matérias de Direito. O tempo ganho por não
precisar aprender raciocínio lógico a partir das bases iniciais será
considerável, e seu modo de raciocinar deve levá-lo a um bom desempenho
no aprendizado de contabilidade também. Se você veio das humanas, há uma
tendência que você tenha mais facilidade na compreensão de textos, nas
línguas e no estudo do Direito. Nesse caso, sem negligenciar nenhuma
dessas matérias, esforce-se para ter uma base boa em Raciocínio Lógico
(ao menos para ultrapassar a barreira dos 40% de desempanho exigida pela
ESAF) e compreender bem a Contabilidade. Um candidato que venha da área
de biológicas é, provavelmente, o que pegará mais matérias a partir do
zero, sem uma trajetória acadêmica. Nesse caso, foque seus estudos em
duas frentes: uma jurídica, com as várias matérias de direito, e uma
“dos números”, com contabilidade e raciocínio lógico. Obviamente ainda
existem as matérias de administração, auditoria, legislações etc. Mas
essas são "neutras", com um estudo mais semelhante para todos os
candidatos.
Em resumo: não tenha receio de prestar o concurso
devido à sua formação. Todos os anos temos uma composição de aprovados
bastante heterogênea para os concursos da área fiscal. Analise as matérias do edital e
veja em quais sua formação pode te dar uma vantagem. Ainda assim revise
tais matérias, para se certificar que elas te darão um bom número de
pontos. Nas matérias que você desconhece, dedique-se muito mais, com uma
preparação sólida e que te leve a entender o conteúdo, não apenas
decorá-lo. Com um estudo regrado e bem desenvolvido as chances de
aprovação serão grandes, não sendo decisiva sua área de formação
universitária.
*Depoimento concedido à Central de Concursos
Fonte: http://jcconcursos.uol.com.br
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